Anotações de um diário

Por Ney Leandro de Castro (escritor)

Maneco Botelho foi um dos grandes amigos que tive. Num determinado tempo, ele ficou pouco à vontade comigo porque eu comecei a namorar sua irmã. Resolveu então me apresentar a uma recifense, que estava passando as férias em Natal, na casa de umas primas. Ao ver a recifense, fiquei extasiado com a sua beleza. Era linda. Uma deusa grega passando férias no verão natalense. Foi o meu primeiro alumbramento, como diria Manuel Bandeira. No dia seguinte, levei para a bela, que se chamava Margarida, vários poemas de amor. Ainda me lembro de um verso que dizia: “Se digo o teu nome, cem pássaros verdes, todos verdes, se perdem no espaço de solstício.” A bela ficou lisonjeada com os poemas, mas não retribuiu nem com um beijo no rosto. A minha paixão foi crescendo, quase me sufocando. Quando Margarida voltou para o Recife, chamei o meu amigo Leonardo Godoy para visitar comigo a capital pernambucana. Tomamos umas biritas no Bar Savoy, bar imortalizado pelo poeta Carlos Pena Filho, e lá fomos nós, rumo a uma loja da Varig, onde a bela trabalhava. Lá, cheio de ciúmes, fiz um escândalo. 

À noite, corri para o bairro de Casa Amarela, onde a bela morava e me ajoelhei a seus pés pedindo perdão. Ela me disse que não poderia me perdoar. Voltei alucinado para Natal e, de tão confuso, querendo autopunição, em menos de um mês me casei com uma mulher de quem nunca gostei. A punição foi muito dura, muito mais do que eu imaginava. Pouco dias depois do casamento, Margarida me mandou, através de Maneco, uma caixa cheia de cartas e poemas de amor que eu havia feito para ela. Caí na besteira de mostrar as declarações de amor à atual mulher, o que marcou minha primeira briga num casamento que durou sete anos de brigas. 

Ah, atire a primeira pedra aquele que não sofreu por amor!

#Compartilhe:

Sem Comentario to " Anotações de um diário "

‹‹ Postagem mais recente Postagem mais antiga ››